segunda-feira, 19 de julho de 2010

Prefeito Interino: "Não sou marionete nem sou traidor. Sou Nelson Nahim"

Folha On-Line
Suzy Monteiro

Leonardo Berenger
Com a Bíblia aberta sobre a mesa, o prefeito interino Nelson Nahim (PR) recebe seus assessores desde que assumiu o cargo há 14 dias. É a oração de Salomão para obter sabedoria que ele diz estar ajudando. A realização do sonho que acalenta desde 1996, quando foi eleito pela primeira vez como vereador, tem exigido uma rotina intensa de mais de 14 horas de trabalho diário. No dia da posse, Nahim mandou um recado: não gosta de puxa-sacos. Foi uma forma de afastar, segundo ele, quem quisesse fazer fofoca nesse momento delicado, em que está no cargo no lugar da cunhada, Rosinha Garotinho (PMDB), que teve o mandato cassado pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE).  E como forma de evitar comparações ou disse-me-disse, alerta: “Não sou marionete nem traidor. Sou Nelson Nahim”.


Folha da Manhã — Como estão sendo os primeiros dias na Prefeitura?
Prefeito interino Nelson Nahim — A Prefeitura de Campos é uma prefeitura bem saudável do ponto de vista financeiro, já que, ao longo desse período da gestão da Rosinha Garotinho, houve planejamento. Por exem-plo, quanto às obras, todas as planilhas foram feitas por uma empresa de grande porte, porque o município não tinha e não dispõe ainda uma empresa qualificada para fazer isso.  Há um controle rígido da questão orçamentária, uma Prefeitura absolutamente saneada.

Folha — O senhor está fazendo as reuniões com os secretários? Já acabaram essas reuniões?
Nahim — Não, ainda não. Mas eu diria a você que 80% das secretarias têm problemas, a começar pela Saúde. É a secretaria maior em tamanho e maior em problemas. Muita coisa foi feita, mas ainda tem muitas coisas para fazer. Nós temos dois hospitais importantes para a cidade e para a região, o Ferreira Machado e o Geral de Guarus, ambos com dificuldades. Por isso, minhas primeiras reuniões foram com o secretário de Saúde (Paulo Hirano) e com os diretores dos hospitais (Ricardo Madeira, do HFM, e Otávio Cabral, HGG) e algumas medidas a gente já tomou. Primeiro e de imediato, já havia pronto, liberei a reforma do Ferreira. Havia uma necessidade de ampliação de leitos...

Folha — O Ferreira é sempre sobrecarregado, recebendo pacientes de outros municípios.
Nahim — Isso é até assunto para outra entrevista. Durante a reunião da Ompetro, falei com a prefeita Carla Machado (São João da Barra) e com outros prefeitos, que não há condições de Campos ficar com o volume de pacientes que vem de fora da cidade. E a gente já até agendou para o mês que vem um encontro entre os prefeitos, os secretários de Saúde e vamos convidar o secretário de Saúde do Estado (Sérgio Côrtes). Então, as primeiras medidas foram nesse sentido: dar melhores condições para os pacientes e para aqueles que trabalham no HFM. Após a reforma, faremos o anexo, com valor de R$ 6 a 7 milhões, que vai melhorar ainda mais o atendimento, com a construção da ala  dos queimados, heliporto, e uma nova Emergência. A transferência do Caope (Centro de Atendimento Odontológico a Pacientes Especiais) para o HGG, pois não é compatível aquele setor numa área de Emergência. Com Otávio Cabral, apertei, no bom sentido, para aumentar o atendimento da Oftalmologia, pois a fila para cirurgias de catarata é muito grande. Já há movimentação do diretor nesse sentido. E também implementar com maior velocidade o serviço de Audiometria e Cirurgia também, tentar resolver a carência dos médicos, mas aí a gente esbarra no TAC (Termo de Ajustamento de Conduta) que não permite mais contratar em função do volume pré-estabelecido para isso. Já tive um encontro no Ministério Público, bem como o Judiciário para levar essas questões. Isso fora a questão estrutural, mas estamos com uma série de ações para isso. A verdade é que por muito tempo o Hospital Geral de Guarus não passou por manutenção e estava em estado precário e agora está sendo por mim mais cobrado. Não que a prefeita não cobrasse, mas virei um “despache de luxo” e esse despachante é enjoado, cobra mesmo.

Folha — Saúde é uma questão complicada mesmo e a hora em que uma pessoa procura um serviço de saúde é quando ela está mais carente.
Nahim — Saúde é prioridade. Com relação a medicamentos, por exemplo, já determinei ao secretário Paulo Hirano para que, quando fizesse licitações, incluísse já na lista os medicamentos que já de rotina são solicitados através de processos, para que a pessoa não precise entrar com processo para só depois licitar. Como da mesma forma, os medicamentos através de determinação judicial para evitar que a pessoa fique esperando. Para que a secretaria de Saúde tenha esse controle.

Folha — O senhor também ampliou agora o Emergência em Casa.
Nahim — Sim, ampliamos agora para a região Norte, em Travessão, mas esbarro mais uma vez na questão do TAC. Para eu ampliar para a cidade inteira, tenho que contratar mais médico e não posso. É mais uma questão que encaminhei à Procuradoria, no sentido de analisar.

Folha — O senhor permanecendo no cargo pretende fazer concurso? Como o senhor vê a questão do concurso e dos terceirizados?
Nahim — Uma coisa que precisa ficar bem claro é que as pessoas acham que a Prefeitura de Campos é bilionária. Ela tem muito dinheiro, mas os recursos próprios são insuficientes até para a folha de pagamento. O grosso do dinheiro é dos royalties, que proíbem o pagamento de funcionários concursados, sejam estatutários ou celetistas. Por isso que houve a opção da terceirização de alguns serviços, porque dessa forma pode ser utilizado o recurso. Sou totalmente a favor do concurso, mas como vou fazer concurso se não posso pagar? O ideal é o concurso.

Folha — Tem também o PSF (Programa Saúde da Família)...
Nahim — O PSF é um grande projeto, mas em função de todas as coisas que ocorreram no passado há uma decisão judicial para que ele não funcione daquela forma e que a Prefeitura realizasse o concurso, que para mim, como advogado, o Judiciário foi induzido a erro. É impossível você fazer um concurso em cima de um programa. O recurso do PSF não é da Prefeitura, e sim do governo federal. Acho um despropósito fazer um concurso público em cima de um programa que pode acabar. E aí? Como ficam aquelas pessoas? Pagaram suas inscrições, foram aprovadas e temos esse quebra-cabeça. Já que a Prefeitura não dispõe de recursos próprios para isso, por essa razão o Emergência em Casa é uma alternativa, não uma solução.

Folha — Um outro setor que o senhor destacou como prioritário foi a Educação. Já conversou com Joilza (Rangel, secretária de Educação)? E o resultado do Ideb?
Nahim — Não se pode culpar sempre os outros. Esse primeiro ano de governo ainda foi muito reflexo do anterior. Muita coisa foi feita pela Educação, mas ainda falta muito o que fazer. Na conversa que tive com Joilza, disse para ela implementar todas as políticas necessárias ao corpo de Educação para que a gente melhore. Ela vai trazer tudo o que for necessário para isso e vamos fazer.

Folha — Em relação à Agricultura já existe alguma coisa?
Nahim — Existe uma reclamação muito grande em relação a patrulhas mecanizadas nos distritos. Chamei o secretario de Agricultura (Carlos Frederico da Silva Paes) e o coordenador de Infra-estrutura, Tom Zé, e até o início do mês estaremos com patrulhas mecanizadas para atender o produtor rural que está numa situação difícil, bem como já há várias licitações em andamento para recuperação de estradas sem pavimentação por onde escoam a produção. Há algumas obras determinadas por mim como melhorias e construção de pontes, como Palmares (licitando), Morro do Coco e Marrecas. São melhorias que vão dar um reforço ao interior. Máquinas para o produtor, máquinas para melhorar estradas e pontes.

Folha — Outro problema que tem causado bastante polêmica desde o início do governo é em relação aos camelôs, cuja transferência de local já foi adiada duas vezes. O novo prazo é 31 de julho, mas as obras não estão concluídas. Haverá novo adiamento?
Nahim — Vou ser bem sincero: não consegui chegar a esta questão ainda. Vou ter um encontro ainda com as secretarias para saber como estão as coisas. Mas acho que a gente não deve desamparar essa figura que é a figura do camelô, mas também não podemos permitir que o comércio fique insatisfeito pela desordem que isso causa. Temos que equacionar esse problema. Mas vamos seguindo. Autorizei a licitar o programa Bairro Legal na Penha e já vai iniciar a licitação. Vai dotar aquele local de toda a infra-estrutura, assim como o Bairro Legal da Lapa. Já estamos fechando o orçamento para a reestruturação do Centro histórico de Campos, para dar nova cara ao Centro.  Entendo que a obra da avenida Arthur Bernardes não pode parar onde está, na avenida 28 de Março. E estamos vendo até a avenida Alberto Lamego. A obra foi licitada até a Alberto Lamego, mas só dada a ordem de serviço até a 28 de Março. Campos precisa de um corredor alternativo.


Folha — Foi realmente bem tranqüila essa transição...
Nahim — Sim. Outro dia acho que foi Fernando Leite ou João de Oliveira que falou que nunca viram uma calmaria como esta. Acho até que isso é fruto de minha postura. Não vim apenas para cumprir uma determinação judicial. Vim para fazer as coisas acontecerem.

Folha — No dia de sua posse, o senhor falou que não gostava de puxa-sacos. Precisou mandar voltar muita gente ou aquele recado foi suficiente?
Nahim  — Até agora não tive problemas, acho que o recado foi bem dado. Aquilo ali, na verdade, não foi um recado para ninguém específico e, ao mesmo tempo, foi para todos. Mas para mostrar que cada um tem seu estilo. Não que Rosinha goste de puxa-sacos, mas para que evite nessa situação delicada em que me encontro. Afinal, queira ou não, sou cunhado de Rosinha e poderiam ficar querendo fazer fofocas. Então, não vou permitir que se aproximem pessoas que queiram criar qualquer tipo de animosidade. Afinal, não fiz nada para estar aqui no lugar dela. Minha campanha foi para vereador. Mas foi uma determinação da Justiça. E isso inclusive atrapalhou o meu projeto pessoal que não era esse agora. Eu estava na pré-campanha pra deputado estadual muito boa, com grande aceitação popular, vieram informações de vários institutos de pesquisas e eu estava muito bem, as chances de ganhar a eleição eram muito boas, mas eu tive que cumprir com meu papel. Eu não ia abrir mão daquilo que é de minha responsabilidade.

Folha — O senhor já conversou com Rosinha depois que tomou posse do cargo?
Nahim — Já sim. Já tive com ela umas duas ou três vezes e conversamos. Obviamente que ela não está nada satisfeita... Mas não há nenhum tipo de dificuldade. Como eu disse anteriormente, podem falar: já que eu estou aqui, então sou marionete, e se eu sou do meu jeito, eu sou traidor. Eu não sou uma coisa nem outra, eu não sou marionete e eu não sou traidor. Eu sou Nelson Nahim. É diferente.

Folha — Nessa questão do traidor, durante a reunião do PR em Campos, no dia 4, Anthony Garotinho falou e fez esse alerta...
Nahim — Olha, eu relevo aquilo, sabe por quê? Foi um momento de muita emoção. Eu mesmo me emocionei. Eu não levo em consideração aquilo. Foi um momento de sofrimento para ele, no qual ele se culpava daquilo tudo que estava acontecendo, que seria em função dele. Clarissa estava lá, todos os filhos da prefeita. Encarei aquilo com naturalidade. Claro que gostar de ouvir aquilo ninguém gostaria de ouvir, eu também não vou ser hipócrita, mas eu entendo o momento que ele estava vivendo. Tanto é verdade que, posteriormente, já conversei com Rosinha, com Garotinho, e já mostrei meu posicionamento. Não vejo nenhum tipo de dificuldade.

Folha — Caso haja nova eleição para a Prefeitura de Campos nos próximos meses, o senhor estará na disputa? Afinal, chegar à Prefeitura sempre foi um sonho seu. Aliás, não é segredo para ninguém.
Nahim — Por ironia do destino, quando tomei posse como vereador em 1996, dei uma entrevista à Folha da Manhã, quando disse que meu sonho era ser prefeito de Campos. E meu sonho nunca mudou. Eu abri mão por 14 anos. Claro que eu não queria ser prefeito nessas condições. Rosinha foi eleita prefeita, não eu. Mas, no momento não estou preocupado com nova eleição. Estou preocupado em dar conta e o melhor de mim para que a cidade saiba que tem com quem contar. Em um momento oportuno, caso Rosinha perca seus re-cursos e o TRE marque novas eleições, claro que serei um dos nomes e acredito que o partido vai lembrar para que eu possa pleitear essa vaga. Não só pelo tudo que já dei de mim nesses quatro mandatos de vereador pela cidade, mas também pela experiência que adquiri ao longo dos anos. E, se for da vontade de Deus  e do povo, serei então o prefeito eleito dessa cidade.

Folha — O senhor falou em calmaria. Esse clima contagiou até a Câmara de Vereadores, onde os ânimos estavam muito acirrados até então. O senhor acha que esse novo relacionamento acontece também por o senhor ter vindo de lá?
Nahim — O relacionamento é o melhor possível, porque continuo sendo o presidente da Câmara exercendo a função de prefeito. E meu relacionamento com os vereadores enquanto presidente da Câmara sempre foi o melhor possível. Os embates não aconteciam comigo, mas entre os vereadores que tinham visões diferentes. E há o entendimento na Câmara de que este não é o momento de ficar crucificando ninguém. Pelo contrario, é de ajudar. Quem está na chefia do Executivo é um vereador, colega de todos eles. É um sentimento de maturidade do conjunto dos vereadores sobre esse momento que estamos passando. O presidente da Câmara (Rogério Matoso) já esteve comigo umas quatro vezes nesses 10 dias. Fui eleito presidente da Câmara por unanimidade. Renatinho Barbosa (morto em um acidente no mês de setembro passado) infelizmente não está mais lá, Ilsan não estava lá na época, mas Ederval (Venâncio, suplente de Ilsan) estava e votou em mim.

Folha — A situação é tão calma que o governador do Rio, Sérgio Cabral (PMDB), ligou para o senhor depois da posse.
Nahim — Sim, o governador Cabral ligou para mim, colocou o governo do Estado à disposição, falou que estaria ali para o que a gente precisasse e encarei isso com muita naturalidade. Acho que o homem público tem que ter esse desprendimento, em benefício da população.

Folha — Agora que está mais familiarizado com o que é o interior da Prefeitura e quais são as ações realizadas e em andamento, o senhor fará alguma alteração no secretariado?
Nahim — Não. Acho que não seria nem justo. Eles estavam trabalhando com a prefeita Rosinha, tem que ter um tempo para se adaptarem a um novo estilo. A não ser que seja a vontade de algum secretário ou secretária mudar de posição. Fora isso, não. Estou dando oportunidade de que as metas que eu quero sejam cumpridas, que sejam solucionadas. E os secretários têm que colaborar comigo nessa missão.

Folha — Quando o senhor ainda era o presidente da Câmara de Vereadores, em um dos últimos atos da prefeita Rosinha Garotinho no cargo, o então presidente da CamposLuz, Álvaro Barbosa, foi exonerado porque atuava como engenheiro civil numa firma que prestava serviços à Prefeitura de Campos. Álvaro é ligado ao senhor. Houve algum estremecimento entre o senhor e Rosinha por conta disso?
Nahim — Se dissesse que fiquei satisfeito com isso estaria mentindo. Mesmo porque entendo que Álvaro Barbosa pode até ter cometido uma falha, mas não houve nenhum ato dele como secretário. Houve um fato concreto, um lapso talvez, de ele assinar como responsável técnico de uma empresa que prestou algum serviço à Prefeitura. Obviamente isso não pode acontecer. Alguns blogs falaram que eu já o trouxe de volta ao governo, mas não é verdade. Mas, regularizada sua situação, não terei dificuldade nenhuma de recolocá-lo onde estava, até porque Álvaro é uma unanimidade entre os secretários e é incontestável seu trabalho à frente da CamposLuz. Campos nunca teve um serviço tão bom de iluminação pública quanto na gestão de Álvaro. Já encaminhei o caso à Procuradoria e aguardo um parecer para que possa nomeá-lo de novo. Não falta a Álvaro capacidade ou idoneidade para continuar à frente da CamposLuz.

Folha — Nos últimos seis anos, Campos teve sete prefeitos. Quatro foram afastados. O senhor teme que, caso permanecendo no cargo, essa “sina” que parece pairar sobre a Prefeitura de Campos continue a mudar o cenário político?
Nahim — Não sei. Mas que o que acontece em Campos é atípico é. Acho que não existe cidade no país que tenha passado pelo que Campos passa. O fato é que isso é ruim para a cidade, cria instabilidade. Se houver nova eleição, que o prefeito possa cumprir até o fim seu mandato.

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