Carlos Sampaio era funcionário do zoológico do Rio. Ele cuidava da parte administrativa do local.
Um homem que começou como major, virou tenente-coronel e logo estava trabalhando na cúpula da Secretaria de Segurança Pública do Rio de Janeiro.
Tinha tudo pra ser uma carreira brilhante, não fosse por um detalhe: o tal homem nunca chegou a pisar no Exército.
Em uma entrevista exclusiva para a TV, o falso militar conta o que fez pra enganar tanta gente por tanto tempo.
“Você conhece a palavra dom? Eu acho que eu tenho este dom para trabalhar nisso, como eu acho que eu tenho este dom para trabalhar em tudo o que eu coloco a mão.”
O dom de que Carlos da Cruz Sampaio Júnior fala apareceu cedo. Nas fotos de criança o menino já interpretava um militar. Mas quando tentou entrar para o Exército, não passou no teste.
“Eu acho que uma série de fatores de natureza pessoal, me levaram a não chegar na academia militar. Tentei. Mas acabou que ficou esquecido. acabei enveredando pelo direito”.
E acabou largando a faculdade. Muito antes de começar a carreira na Segurança Pública, de entrar para a Secretaria, Carlos Sampaio era funcionário do zoológico do Rio. Cuidava da parte administrativa do local.
Mas foi lá que o futuro falso coronel disse que teve a primeira experiência, organizando o esquema de segurança.
“Eu questionava tanto a eficiência da empresa de segurança, que quando pedi a exoneração do zoológico por motivos pessoais, eu acabei sendo convidado a participar de empresa de segurança em 98”.
Sampaio ainda trabalhou com esportes de aventura, limpeza predial, até conseguir um emprego na secretaria de Segurança. Um trabalho administrativo, assessor do subsecretario. Ele andava de colete e participava de inaugurações ao lado de autoridades.
E queria mais. Aficionado pelo tema, estudou livros sobre segurança e manuais de policias de diversos países, inclusive manuais russos, idioma que ele diz ter aprendido na internet.
Depois de três anos, elaborou seu próprio projeto para melhorar o patrulhamento nas ruas. Mas: “O que acontece, quando você chega na secretaria de Segurança, existe um termo pejorativo que se chama ‘PI’. ‘PI’ é o ‘pé inchado’. É aquele cidadão que não é Policial Civil, nem Militar. Constantemente fui chamado de ‘PI’. De certa forma ofende, claro que ofende”, conta.
Com a troca de governo deixou a secretaria, mas não a ideia de implantar seu sistema de segurança. Três anos depois, em 2009, voltou a ativa, agora diretamente onde o patrulhamento das ruas é organizado. Sampaio apresentou mais uma vez seu projeto em um batalhão da PM, decidido a não ser mais um ‘pé inchado’.
O 6° batalhão é responsável pelo policiamento em vários bairros da zona norte do Rio de Janeiro, inclusive a Tijuca, lugar onde Sampaio mora. Quem entrou por aquela porta foi o ex-diretor de zoológico e funcionário público. Quem saiu de lá foi o coronel, que iria levar o seu bem sucedido plano de patrulhamento das ruas para outros batalhões.
Mas, ele não chegou logo de cara como coronel. No começo escolheu uma patente um pouco mais baixa. “Major, na época. Como eu fiz isso? Basta dizer. Eu disse e as pessoas acreditaram”.
Durante três meses o agora major Sampaio trabalhou no 6° batalhão. Mas ainda havia dificuldade pra implantar suas ideias. Então, resolveu se promover: “Quando você passa a ser tenente-coronel e apresenta o seu trabalho, nossa, todo mundo diz amém e funciona”, brinca.
Dai em diante, a carreira deslanchou. O falso coronel implantou seu projeto em outros três batalhões. Sampaio dava palestras, planejava o policiamento, redistribuía carros da polícia nas ruas.
Nos treinamentos, ensinou técnicas de abordagem, deu instruções de tiro e, comandou, armado, operações nas ruas. Determinando onde e como os policiais deviam agir.
A popularidade de Sampaio cresceu tanto que ele foi convidado a trabalhar na secretaria de Segurança. “Quando eu vi que o projeto poderia ganhar uma divulgação maior, poderia surtir mais efeito. ‘Tudo bem, vamos lá’. Eu aceitei”.
Nessa época, Sampaio apresentava um currículo impressionante. O militar que nunca existiu havia cursado a academia das Agulhas Negras, comandado um batalhão de fronteira na Amazônia, e até fez parte da guarda presidencial. Tudo mentira. Na carteira do Exército, a foto com farda de gala.
“Aquilo era uma montagem de Photoshop. Não falsifiquei, criei. É diferente, porque você falsificar é pegar qualquer documentação e transformar os dados, eu simplesmente editei a carteira toda no Photoshop. Então, eu criei”, conta.
Depois que Sampaio foi preso a policia analisou o documento. Encontrou dez erros grosseiros, como a data de validade, até 2031: em um documento do Exército ela seria indeterminada.
Quem assina a carteira é um capitão, o que não aconteceria na identidade de um coronel. E até o próprio posto, tenente-coronel está escrito errado, sem hífen. Mesmo com erros tão básicos, ninguém na secretaria percebeu a falsificação.
Repórter: Pra ser contratado não foi pedido documento?
“Eu já tinha tudo lá, minha carteira do Instituto Félix Pacheco, CPF, PIS, tinha tudo lá”, explica.
A nomeação para o cargo de coordenador da subsecretaria de Planejamento e Integração Operacional veio no dia 12 de julho de 2010. E o falso coronel, agora coordenador, foi trabalhar no quarto andar da secretaria.
Instalado no centro do comando, Sampaio recebia informações dos batalhões, tinha reuniões com coronéis, e fiscalizava operações nas ruas. Em agosto do ano passado o falso coronel esteve numa operação para prender traficantes que tinham invadido um hotel em São Conrado, Zona Sul do Rio.
Sampaio acompanhou a negociação para que os bandidos se entregassem e libertassem os reféns. De colete, ele estava dentro da área de isolamento, na porta do hotel.
A secretaria de Segurança Pública do Rio de Janeiro fica exatamente em frente ao comando do Exército. Apenas uma rua separa os dois prédios. Mas essa pequena distância levou três meses para ser percorrida. Foi o tempo que a secretaria levou para pedir informações sobre o seu novo contratado ao comando militar.
Em nota, a secretaria de Segurança alegou que Sampaio ficou três meses empregado, porque o serviço de inteligência precisou desse tempo para reunir provas suficientes contra ele.
No dia 7 de outubro do ano passado, o secretario José Mariano Beltrame finalmente procurou o Exército e a resposta veio no mesmo dia. Carlos Sampaio nunca tinha sido militar na vida. Na semana seguinte ele foi preso na sala que ocupava na secretaria.
A história de Sampaio lembra a de outros falsários famosos retratados no cinema. O filme “Vips”, que tem Vagner Moura no papel principal, conta a história do estelionatário que ficou famoso por se passar pelo filho do dono de uma grande empresa aérea. Ele participou de festas, se hospedou em hotéis caros, teve aviões a disposição.
Mas para o advogado de Sampaio, esse é um caso diferente: “Ele seria o único falsário no mundo, por assim dizer, que não tem vantagem nenhuma. Ele ganhava mal, ele trabalhava tanto ou mais do que os outros e otimizou todos os trabalhos da polícia”, afirma o advogado de Sampaio.
O falso coronel passou dois meses preso. Agora responde a processos de falsa identidade e porte ilegal de arma de uso restrito e pode pegar até seis anos de prisão. Sampaio só lamenta que o seu projeto de policiamento não é mais seguido nos batalhões e resume como conseguiu passar tanto tempo enganando as pessoas.
“Eu acho que as pessoas acreditam na forma como você se coloca e o que você coloca. Se você chegar pra mim e falar que é o presidente da República, souber se colocar como presidente e se portar como tal e tiver representatividade e ter resultado como tal, eu acho que sim. Vocë talvez não se passasse por presidente da República”, brinca.
Tinha tudo pra ser uma carreira brilhante, não fosse por um detalhe: o tal homem nunca chegou a pisar no Exército.
Em uma entrevista exclusiva para a TV, o falso militar conta o que fez pra enganar tanta gente por tanto tempo.
“Você conhece a palavra dom? Eu acho que eu tenho este dom para trabalhar nisso, como eu acho que eu tenho este dom para trabalhar em tudo o que eu coloco a mão.”
O dom de que Carlos da Cruz Sampaio Júnior fala apareceu cedo. Nas fotos de criança o menino já interpretava um militar. Mas quando tentou entrar para o Exército, não passou no teste.
“Eu acho que uma série de fatores de natureza pessoal, me levaram a não chegar na academia militar. Tentei. Mas acabou que ficou esquecido. acabei enveredando pelo direito”.
E acabou largando a faculdade. Muito antes de começar a carreira na Segurança Pública, de entrar para a Secretaria, Carlos Sampaio era funcionário do zoológico do Rio. Cuidava da parte administrativa do local.
Mas foi lá que o futuro falso coronel disse que teve a primeira experiência, organizando o esquema de segurança.
“Eu questionava tanto a eficiência da empresa de segurança, que quando pedi a exoneração do zoológico por motivos pessoais, eu acabei sendo convidado a participar de empresa de segurança em 98”.
Sampaio ainda trabalhou com esportes de aventura, limpeza predial, até conseguir um emprego na secretaria de Segurança. Um trabalho administrativo, assessor do subsecretario. Ele andava de colete e participava de inaugurações ao lado de autoridades.
E queria mais. Aficionado pelo tema, estudou livros sobre segurança e manuais de policias de diversos países, inclusive manuais russos, idioma que ele diz ter aprendido na internet.
Depois de três anos, elaborou seu próprio projeto para melhorar o patrulhamento nas ruas. Mas: “O que acontece, quando você chega na secretaria de Segurança, existe um termo pejorativo que se chama ‘PI’. ‘PI’ é o ‘pé inchado’. É aquele cidadão que não é Policial Civil, nem Militar. Constantemente fui chamado de ‘PI’. De certa forma ofende, claro que ofende”, conta.
Com a troca de governo deixou a secretaria, mas não a ideia de implantar seu sistema de segurança. Três anos depois, em 2009, voltou a ativa, agora diretamente onde o patrulhamento das ruas é organizado. Sampaio apresentou mais uma vez seu projeto em um batalhão da PM, decidido a não ser mais um ‘pé inchado’.
O 6° batalhão é responsável pelo policiamento em vários bairros da zona norte do Rio de Janeiro, inclusive a Tijuca, lugar onde Sampaio mora. Quem entrou por aquela porta foi o ex-diretor de zoológico e funcionário público. Quem saiu de lá foi o coronel, que iria levar o seu bem sucedido plano de patrulhamento das ruas para outros batalhões.
Mas, ele não chegou logo de cara como coronel. No começo escolheu uma patente um pouco mais baixa. “Major, na época. Como eu fiz isso? Basta dizer. Eu disse e as pessoas acreditaram”.
Durante três meses o agora major Sampaio trabalhou no 6° batalhão. Mas ainda havia dificuldade pra implantar suas ideias. Então, resolveu se promover: “Quando você passa a ser tenente-coronel e apresenta o seu trabalho, nossa, todo mundo diz amém e funciona”, brinca.
Dai em diante, a carreira deslanchou. O falso coronel implantou seu projeto em outros três batalhões. Sampaio dava palestras, planejava o policiamento, redistribuía carros da polícia nas ruas.
Nos treinamentos, ensinou técnicas de abordagem, deu instruções de tiro e, comandou, armado, operações nas ruas. Determinando onde e como os policiais deviam agir.
A popularidade de Sampaio cresceu tanto que ele foi convidado a trabalhar na secretaria de Segurança. “Quando eu vi que o projeto poderia ganhar uma divulgação maior, poderia surtir mais efeito. ‘Tudo bem, vamos lá’. Eu aceitei”.
Nessa época, Sampaio apresentava um currículo impressionante. O militar que nunca existiu havia cursado a academia das Agulhas Negras, comandado um batalhão de fronteira na Amazônia, e até fez parte da guarda presidencial. Tudo mentira. Na carteira do Exército, a foto com farda de gala.
“Aquilo era uma montagem de Photoshop. Não falsifiquei, criei. É diferente, porque você falsificar é pegar qualquer documentação e transformar os dados, eu simplesmente editei a carteira toda no Photoshop. Então, eu criei”, conta.
Depois que Sampaio foi preso a policia analisou o documento. Encontrou dez erros grosseiros, como a data de validade, até 2031: em um documento do Exército ela seria indeterminada.
Quem assina a carteira é um capitão, o que não aconteceria na identidade de um coronel. E até o próprio posto, tenente-coronel está escrito errado, sem hífen. Mesmo com erros tão básicos, ninguém na secretaria percebeu a falsificação.
Repórter: Pra ser contratado não foi pedido documento?
“Eu já tinha tudo lá, minha carteira do Instituto Félix Pacheco, CPF, PIS, tinha tudo lá”, explica.
A nomeação para o cargo de coordenador da subsecretaria de Planejamento e Integração Operacional veio no dia 12 de julho de 2010. E o falso coronel, agora coordenador, foi trabalhar no quarto andar da secretaria.
Instalado no centro do comando, Sampaio recebia informações dos batalhões, tinha reuniões com coronéis, e fiscalizava operações nas ruas. Em agosto do ano passado o falso coronel esteve numa operação para prender traficantes que tinham invadido um hotel em São Conrado, Zona Sul do Rio.
Sampaio acompanhou a negociação para que os bandidos se entregassem e libertassem os reféns. De colete, ele estava dentro da área de isolamento, na porta do hotel.
A secretaria de Segurança Pública do Rio de Janeiro fica exatamente em frente ao comando do Exército. Apenas uma rua separa os dois prédios. Mas essa pequena distância levou três meses para ser percorrida. Foi o tempo que a secretaria levou para pedir informações sobre o seu novo contratado ao comando militar.
Em nota, a secretaria de Segurança alegou que Sampaio ficou três meses empregado, porque o serviço de inteligência precisou desse tempo para reunir provas suficientes contra ele.
No dia 7 de outubro do ano passado, o secretario José Mariano Beltrame finalmente procurou o Exército e a resposta veio no mesmo dia. Carlos Sampaio nunca tinha sido militar na vida. Na semana seguinte ele foi preso na sala que ocupava na secretaria.
A história de Sampaio lembra a de outros falsários famosos retratados no cinema. O filme “Vips”, que tem Vagner Moura no papel principal, conta a história do estelionatário que ficou famoso por se passar pelo filho do dono de uma grande empresa aérea. Ele participou de festas, se hospedou em hotéis caros, teve aviões a disposição.
Mas para o advogado de Sampaio, esse é um caso diferente: “Ele seria o único falsário no mundo, por assim dizer, que não tem vantagem nenhuma. Ele ganhava mal, ele trabalhava tanto ou mais do que os outros e otimizou todos os trabalhos da polícia”, afirma o advogado de Sampaio.
O falso coronel passou dois meses preso. Agora responde a processos de falsa identidade e porte ilegal de arma de uso restrito e pode pegar até seis anos de prisão. Sampaio só lamenta que o seu projeto de policiamento não é mais seguido nos batalhões e resume como conseguiu passar tanto tempo enganando as pessoas.
“Eu acho que as pessoas acreditam na forma como você se coloca e o que você coloca. Se você chegar pra mim e falar que é o presidente da República, souber se colocar como presidente e se portar como tal e tiver representatividade e ter resultado como tal, eu acho que sim. Vocë talvez não se passasse por presidente da República”, brinca.
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